Portuguese Modern Language Translation 2005 | Book List

Navigation


 

Lamentações de Jeremias 3

1 Eu sou aquele que conheceu a miséria provocada pelo chicote da ira do Senhor.

2 Ele fez-me andar por um caminho de escuridão, sem nenhuma luz

3 A sua mão não me larga um momento, a cada hora do dia.

4 A minha carne e a minha pele estão chupadas; até os ossos ele me partiu

5 Construiu à minha volta uma barreira feita de amargura e de dor

6 Fez-me habitar na escuridão como aqueles que morreram há muito.

7 Ele emparedou-me, sem me deixar sair, e prendeu-me com correntes.

8 Ainda que eu peça socorro, em altos gritos, ele recusa ouvir a minha oração.

9 Bloqueou a minha passagem com pedras e fez-me seguir por um caminho errado.

10 Foi para mim como um urso em emboscada, como um leão escondido na mata

11 Fez-me sair do meu caminho despedaçou-me e deixou-me destroçado.

12 Esticou o seu arco e fez de mim alvo das suas flechas.

13 As flechas da sua aljava trespassaram os meus rins.

14 Toda a gente se ri de mim e me põe a ridículo, sem cessar.

15 Fez-me comer ervas amargas, deu-me a beber bebidas venenosas.

16 Atirou comigo ao chão, quebrando-me os dentes nas pedras.

17 A minha vida não conhece sossego, já não sei o que é ser feliz.

18 Exclamei: "Estou sem futuro! Já nada espero do Senhor!"

19 A recordação da minha miséria e angústia é como fel e veneno.

20 Tudo o que me aconteceu não se apaga da minha memória.

21 Por outro lado, pensando bem, acho que devo ter esperança.

22 A compaixão de Deus por nós não se esgotou ainda, o seu amor não chegou ao fim.

23 A sua bondade é renovada cada manhã e grande é a sua fidelidade.

24 Digo para comigo: "O Senhor é tudo para mim por isso confiarei nele.

25 O Senhor é bom para aqueles que nele confiam, para quem se volta para ele.

26 Convém esperar em silêncio pela libertação que virá do Senhor.

27 É útil que um homem leve sobre os ombros as obrigações assumidas na sua juventude;

28 que se recolha em silêncio, quando o Senhor o põe à prova;

29 que se deite de rosto em terra, na esperança da intervenção do Senhor!

30 Que não fuja com a face, quando lhe batem, e suporte as ofensas com paciência.

31 Porque o Senhor não é daqueles que rejeitam alguém para sempre.

32 Mesmo se faz sofrer, não deixa de amar porque é grande a sua bondade.

33 Não é por gosto que ele humilha e faz sofrer um ser humano.

34 Quando são espezinhados os prisioneiros duma terra;

35 e quando se violam os direitos dum homem, desafiando o Deus altíssimo;

36 quando a justiça é mal aplicada, certamente que o Senhor não aprova.

37 Quem é que controla os acontecimentos? Não é só o Senhor quem decide?

38 Não é a palavra do Altíssimo que decide o bem-estar ou a desgraça ?

39 Então de que se pode queixar o homem, se ainda está vivo, apesar dos seus pecados?

40 Examinemos bem o nosso comportamento e voltemos para o Senhor.

41 Oremos de todo o coração, de mãos estendidas para o Deus dos céus.

42 Revoltámo-nos e transgredimos as tuas ordens e tu, Senhor, não nos perdoaste.

43 Na tua cólera, tu perseguiste-nos e massacraste-nos sem piedade.

44 Encobriste-te por detrás de uma nuvem, de modo que as nossas orações não chegam a ti.

45 Fizeste de nós lixo e desperdício, no meio dos outros povos.

46 Os nossos inimigos abrem a sua boca, para nos provocarem.

47 O terror e a armadilha estão diante de nós com a devastação e a ruína.

48 Os meus olhos vertem torrentes de lágrimas, por causa do desastre do meu povo.

49 Os meus olhos são fontes inesgotáveis que não cessam de chorar,

50 até que o Senhor se incline, lá do alto, e veja!

51 Já me doem os olhos de chorar pelo que aconteceu às mulheres da minha cidade.

52 Aqueles que me buscam sem razão perseguiram-me como se fosse um pássaro;

53 encerraram-me vivo num poço e taparam-no com uma pedra.

54 A água subia acima da minha cabeça e pensei que estava perdido.

55 Lá do fundo, chamei por ti, Senhor, do mais profundo do poço.

56 Ouve o meu grito! Não feches os ouvidos ao meu pedido de ajuda!

57 Quando te chamei, tu aproximaste-te e disseste-me: "Não temas."

58 Senhor, tu defendeste a minha causa e salvaste-me a vida.

59 Senhor, tu viste como me trataram injustamente, sê tu o meu justo juiz.

60 Viste como se vingaram de mim, e como maquinaram intrigas contra mim.

61 Senhor, tu ouviste os seus insultos e todo o mal que me quiseram fazer.

62 Ouviste como os meus inimigos abriram a boca, para murmurar contra mim, sem cessar.

63 Olha bem para o que eles fazem pois escarnecem de mim com as suas canções.

64 Senhor, trata-os a eles como me trataram a mim.

65 Torna-os cegos de entendimento e que isso seja a tua maldição contra eles.

66 Persegue-os com a tua cólera, até que desapareçam da terra."